Maculelê
AFRICANA
INDÍGENA
SANTO AMARO DA PURIFICAÇÃO
MESTRE POPÓ
No resto do estado não era divulgada, nenhuma festividade oficial o tinha em sua programação, nenhuma cidade incluía no elenco de suas manifestações folclóricas.
Popó era o único descendente deescravos que tinha conhecimento daquela arte.Homem belo como a tranqüilidade, de rosto forte, barba branca, cabeça quase alva, como seus dentes, que apareciam muito raramente, porque raramente sorria.
Foi toda vida um artista rico e um homem pobre. Trabalhava muito no Cais do Conde para sustentar a família. Fazia o horário do bonde, transportando passageiros do Conde para o centro da cidade. Por isso, em sua terra de Santo Amaro, de dia era conhecido como Popó do bonde e a noite, quando se reunia para ensaiar a dança, era Popó do Maculelê, como finalmente ficou conhecido no Brasil inteiro. Amante da arte trazia na alma a negritude do seu corpo e a malícia da dança. Foi também capoeirista, além de mestre do Maculelê, a única pessoa a merecer esse título. Popó legou a terra uma das mais belas combinações de dança e luta, tal como aprendeu dos africanos tia Jô e João de Obá. "Tudo deu e nada pediu talvez por isso tenha morrido pobre, no dia 16 de Setembro de 1969, mas sua alma ganha vida todas as vezes que o Maculelê de Popó sai nas ruas de Santo Amaro”.
A respeito, a pesquisadora Hildegardes Vianna chama à atenção para uma remota referência quanto à existência de “uma dança esquisita de gente preta da roça, que aparecia nos festejos de Nossa Senhora da Purificação”. Entretanto, é através dos estudos de Manoel Querino (1851-1923) que se encontram indicações de tratar-se o Maculelê de um fragmento de Cucumbi, uma dança dramática em que os negros batiam os pedaços roliços de madeira, acompanhados por cantos.Também Edson Carneiro, notável folclorista recentemente falecido também acreditava ser o Maculelê um fragmento do Cucumbi. Em pesquisa de campo efetuada em Santo Amaro da Purificação os informantes foram unânimes na afirmação de não ser o Maculelê um fragmento do Cucumbi, dizendo que ambos surgiram na mesma época, havendo o primeiro desaparecido, enquanto o Maculelê, embora com numerosas modificações, teria conseguido subsistir. Naquela área, o Cucumbi estaria ligado, segundo os informantes mais idosos, aos festejos de São Cosme e São Damião, o Maculelê por sua vez está vinculado as festas em louvor a Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora da Purificação. A progressora Zilda Paim que foi responsável pelo grupo de Maculelê de Santo Amaro, declarou acreditar que o ritmo das duas danças era muito parecido, sendo igualmente comum o uso das grimas e o canto “bi-aiai, bi-oioi”, no Cucumbi sendo embargo em que chupão de índios e de escravos simulava combate, o uso das grimas era obrigatório, como é no Maculelê. Em seu “Dicionário de Folclore Brasileiro”, Luís da Câmara Cascudo aponta a semelhança do Maculelê com os Congos e Moçambique. Emília Biancarde escreveu um livro de título “Olelê Maculelê”, considerado como um dos estudos mais completos sobre o assunto.
De acordo com a opinião de Zezinho o Maculelê compõe-se de duas partes, uma indígena denominada lemacu, outra africana chamada culelê, juntando dança e vocábulo, os escravos teriam criado esse folguedo. Segundo Plínio de Almeida, escritor Santo Amarense muito apegado às coisas de sua terra, a palavra é uma expressão onomatopaica, composta dos vocábulos macum e lê, instrumentos musicais africanos trazidos para o Brasil por escravos, possivelmente moçambicanos, por volta de 1757.
Nos arquivos do IBGE foi encontrado o registro que denominava o nome dos componentes dessa diversão como, Barão, Mestre, Contra-mestre e vaqueiro, quatro ou cinco figuras sem denominação especial contribuem para êxito do conjunto.
Os exemplos acima citados já servem para demonstrar o grau de incerteza que persiste com relação às possíveis interpretações sobre os primórdios do Maculelê. Mesmo considerando que já não vivem os praticantes primitivos dessa dança, devem por certo existir ainda valiosos documentos inéditos com dados esclarecedores, para subsidiar elaboração de hipóteses mais consistentes a respeito dessa manifestação, tão pouco estudada nos dias de hoje.
Mestre Bimba ajudou bastante a difundi-lo, pois, além de utiliza-lo como elemento de condicionamento nos treinos de sua academia o Centro de Cultura Física Regional da Bahia, onde um grupo de exibição da Capoeira incluía no repertório também apresentações de Candomblé, Samba de Roda e Samba Duro, tempos depois, com a divulgação do Maculelê, Mestre Bimba resolveu introduzir essa modalidade folclórica nas apresentações, que foi ensinada pelo próprio Popó. Transformando-o em elemento de grande beleza plástica e importante valor de riqueza cultural dentro da Capoeira. Embora não faça parte da Capoeira, o Maculelê sempre estará presente abrilhantando as festas, apresentações e batizados.
O nome usual para o bastão é "grima", palavra que seria uma forma abreviada de esgrima.
O Maculelê vem atravessando numerosas transformações. Em alguns grupos, a luta com bastões de madeira foi substituída por facões, mudança esta que não agradou aos defensores tradicionais do jogo.
Hoje em dia, o Maculelê se encontra integrado na relação de atividades folclóricas brasileiras e é freqüentemente apresentado nas exibições de grupos de capoeira, grupos folclóricos, colégios e universidades. Contudo, convém registrar as observações feitas por Augusto José Fascio Lopes, o mestre Baiano Anzol, ex-aluno do mestre Bimba e professor de Capoeira na Universidade federal do Rio de Janeiro: “... neste trabalho de disseminação,o Maculelê vem sofrendo profundas alterações em sua coreografia e indumentária, cujo resultado reverte em uma descaracterização. Exemplo: o que era originalmente apresentado como uma dança coreografada em círculo, com uma dupla de figurantes movimentando-se no seu interior sob o comando do mestre do Maculelê, foi substituído por uma entrada em fila indiana com as duplas dançando isoladamente e não tendo mais o comando do mestre. O gingado quebrado, voltado para o frevo, foi substituído por uma ginga dura, de pouco molejo.
OBSERVAÇÃO
MÚSICAS
Sumu negros da cabinda de Luanda
A Conceição viemu louva
A randa êêê, a randa êêa
Na praça da igreja Deus vos salve casa santa
Onde Deus fez a morada
Onde mora o cálice bento
E a hóstia consagrada
Ô lê lê Maculelê
Ô lê lê Maculelê
Vamos todos a louva
A nossa nação brasileira
Salve a princesa Isabel, ó meu Deus
Que nos livrou do cativeiro
Esta música é conhecida nos candomblés de angola e caboclo, e em diversos folguedos baianos, como em outras partes do Brasil, foi gravada por Milton Nascimento, pois é muito cantada nos congos de Minas Gerais.
Em frente a alguma residência:
Terminada a louvação, manifesta-se o coro ao rufar dos tambores, enquanto os demais participantes batem as grimas ritmadamente, em seguida, os atabaques iniciam um ritmo quente, a que o velho Popó chamava “nego” quando o mestre partia para mostrar sua agilidade, batendo num e noutro, como a querer surpreender algum desatento.
Músicas durante a dança:
Músicas de peditoria e agradecimento:
Músicas de despedida:
Algumas músicas do CD “Cordão de Ouro” vol. IV de Mestre Suassuna:
Sai, sai,sai boa noite meus senhores
Sai, sai, sai boa noite peço licença
Eu sou um menino minha mãe soube me educar
Quem anda em terras alheias pisa no chão devagar
Êêêê, mas i na ora ê, i na ora á
I na ora ê, sou de Angola
I na ora ê, i na ora á, i na ora ê, dá licença pr’ eu passar
Eu vi a luta, eu tava lá
Eu vi a luta, eu tava lá
Dois guerreiros se pegando dentro do canavial
Lutava maculelê na terra do Mangangá
Um gritava para o outro...
Tumba ê caboclo
Tumba lá e cá
Ê tumba ê guerreiro
Tumba lá e cá
Ê tumba ê Popó
Tumba lá e cá
Ê não me deixe sóTumba lá e cá
Ê tumba ê caboclo
Tumba lá e cá
Ê tumba ê Santo Amaro
Tumba lá e cá
Ê tumba ê Popó
Tumba lá e cá
Não me deixe só
Tumba lá e cá
Eu dei um corte de facão na samambaia, Maculelê que é bom também não falha
Quando eu vou me embora,olé
Todo mundo chora, olê
Após pesquisar diferentes referências sobre a origem do Maculelê, posso afirmar - o que se sabe, é o que foi contado por alguém muito velho, que guardou alguma recordação, quase sempre confusa e contraditória - ninguém pode afirmar ao certo sua origem, pois não há nenhum documento, nada escrito em forma de depoimento que prove os primórdios desta dança.
Pesquisadores e folcloristas se contradizem em tudo, mas se o Maculelê tem uma “origem obscura”, sua atual trajetória começa com mestre Popó, e sua introdução na capoeira devido a Mestre Bimba. Assim, devemos manter essa tradição, por fazer parte da nossa cultura afro-brasileira
Referências Bibliográficas
• Câmara Cascudo-“Dicionário do Folclore”
• Revista Capoeira nº 3
• Sales Deradio-“Maculelê”-Diário de notícias Rio de Janeiro,7 de outubro 1954
• Maria Mutti-Santo Amaro16 de setembro de 1977
Fonte: www.muzenza.com.br